Quando falamos sobre outra pessoa, pensamos que estamos a descrever o outro, mas por vezes podemos estar descrevendo a nós mesmos.
O outro é outro ser, habita outro corpo e possui diferentes experiências. Não há como ter uma consciência clara da experiência do outro, pois para isso teríamos que ser o outro e viver suas próprias experiências.
Como isso não é possível, o que temos são interpretações sobre o outro, partindo do que nós temos por experiência. Observamos o outro partindo da ideia do outro que desenvolvemos em nós, associamos o que o outro diz com o que entendemos do que ele diz, justamente por isso dificilmente o compreendemos como realmente é, como alguém diferente de nós.
Falamos constantemente para nós mesmos, inclusive quando conversamos com o outro falamos com a interpretação que temos do outro, que é nossa. Nem sempre o que interpretamos do outro corresponde ao outro, por vezes pode estar mais relacionado com nós mesmos do que com o outro.
As possibilidades que temos para compreender o que está além de nós são tantas quanto as que temos conhecimento, o limite de compreensão do outro são as nossas experiências, não há como compreender mais sobre o outro do que o que temos por consciência.
O outro, para nós, é grande parte das vezes, um "eu-outro", ou um "outro-eu", ou seja, uma projeção do eu sobre as associações que fazemos sobre o outro. Porém, o outro é muito mais que isso, o outro é um outro complexo.
Para nos aproximar do outro como ele se mostra, precisamos sair um pouco de nós mesmos, nos distanciar de nossos valores e experiências, e tentar observar o outro o que ele revela sobre si, um outro ser.
"Não se tem ouvido para aquilo a que não se tem acesso a partir da experiência."
(Nietzsche)